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O TEATRO!!!!

Descobri o teatro na minha adolescência, onde dois grandes actores  (Ribeirinho e outro que não me recordo do seu nome), nos ensinavam, ao fim das tardes no Trindade, a arte do teatro. Fiquei fascinado em perceber a técnica de incorporar um personagem, como tratar a voz, etc. No Trindade, aconteciam os milagres culturais. Vi "À espera de Godot", numa encenação que me fascinou e me levou a procurar os livros e ensinamentos para saber mais desta arte.

Mais tarde descobri Augusto Boal ao ler "Le theatre de L'opprimé" onde aprendi o que era o teatro pobre e suas técnicas.

O teatro, tem muitas vertentes, falemos das principais: o clássico, os grandes textos mundiais (que devia ser a prioridade do TN); a comédia, (normalmente associada ao teatro comercial); o experimental (que devia ser visto na pequena sala TN, nos teatros municipais, etc.), o teatro popular e o teatro dito independente.

O teatro independente foi o melhor que aconteceu na cena teatral portuguesa após o 25 de abril de 74, onde um bom numero de GT nasceram com  preocupações sociais e de valores culturais e históricos. o teatro amador cresceu muito e dedicou-se ao agit-pro ou ​ao teatro com uma gestão muito hierarquizada e a encenar textos do teatro de "Boulevard", normalmente com o objectivo de servirem de trampolim para os actores passarem ao profissionalismo.

Depois da mostra de teatro que ocorreu na FIL ( data   ?     ) a cena mudou e alguns grupos abandonaram a sua linha estética e cultural, mas o problema é que passados estes anos todos nunca entenderam como deviam gerir as suas "empresas", caindo na armadilha de se verem forçados a sobreviver à conta dos subsídios do Ministério da Cultura.

Mais, tirando algumas excepções, não renovaram as direcções tornando-se em empresas do/s  fundador/res.

Tristemente, vão esmorecendo a pouco e pouco, deixando um espaço vazio no teatro popular e cultural. (não popularucho)

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Cabeçalho 3

A BARRACA  E OS SEUS FUNDADORES

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Os meus escritos teatrais na visão de

LUIS FILIPE SARMENTO:

Conheci o Manuel Marcelino há 42 anos. E desde essa altura a nossa vida nunca deixou de ser uma sátira. 

Uma das peças que integra este volume que aqui se apresenta, A Mosca, teve a sua primeira leitura representada e mais ou menos encenada, no que seria possível naquela anarquia opiácea, numa terça-feira, a 15 de Julho de 1975. Eu, nessa altura, integrava uma pequena companhia de teatro e fora abordado pelo Jacinto Ramos para fazer parte do TNT. O Manuel Marcelino dizia que eu era a grande revelação e que iria dar muito que falar. Ainda que o seu aspecto fosse, nesse tempo, de bruxo, pouco talento teria para as artes de adivinhação. Acabara de publicar o meu primeiro livro, A Idade do Fogo, e trocaria definitivamente o teatro pela faculdade, literatura e jornalismo. Era uma opção sensata. Mas a dor íntima de não fazer teatro ainda hoje permanece tanto mais que, com o tempo, se tornou numa impossibilidade técnica.

Paradoxalmente vivia-se a sátira do sonho ou o sonho da sátira conforme o sentido em que caminhávamos. Sei que não fomos prudentes ao observarmos o estado a que as coisas chegaram nesta Europa infectada por vírus autoritários que nessa época julgávamos ter vencido com a última revolução romântica da história.  

O poder e as suas redondezas à espreita do dito é habitado pelos netos dos desempregados do fascismo que através de códigos secretos e mesmo esotéricos nunca deixaram que lhes tocassem nas fortunas, aplicando-as na mais hedionda intriga que os leva a permanecer na paisagem sinistra de um poder conspurcado por bactérias malignas. 

Se nós acreditávamos nas ocupações das terras e das fábricas para que a democracia sonhada atingisse a plenitude da sua função e com ela o desenvolvimento cultural de um povo acabasse de vez com o analfabetismo e desse lugar ao respeito pelo outro, à cultura do diálogo, ao conhecimento, ao gosto pelo alimento do espírito, à sua representação através do teatro, do cinema, da literatura, do bailado, das artes plásticas, da fotografia, enganámo-nos. Ou melhor, deixámo-nos enganar. E o resultado está à vista. 

A famigerada mundialização só enganou os ingénuos. O luxo tornou-se moda e a contrafação massificou o desejo. A concentração do que até então era diversidade estética e ideológica trouxe-nos grandes grupos que canibalizaram a vida editorial, manipulando mais facilmente a ausência crítica de gosto de uma ignorância instituída que os salvaguarda de uma reconquista ética e ideológica. De uma modernidade criativa e criadora passámos a viver sob o peso esmagador de parecenças de uma hipermodernidade que avassala, corrompe, destrói e assassina o objecto cultural de um povo em nome da gula financeira daqueles que promovem a iliteracia como arma de arremesso contra os criadores. 

Neste sentido, a obra teatral de Manuel Marcelino, reunida neste volume, faz todo o sentido não como uma peça arqueológica de um sonho democrático, mas como intervenção pela sátira contra o despotismo a que todos nós estamos sujeitos. 

Quaisquer das obras do Manel colocam os dedos da denúncia na ferida que nos infligiram os novos agentes sejam eles cavacos, coelhos ou portas aliados à sinistra convenção alemã chefiada pelos neonazis que têm o seu ícone na figura deplorável do deficiente Schauble e que arrasaram nos últimos anos com a produção artística e cultural deste país com o colaboracionismo dos chamados «socialistas moderados» que dirigem impérios editoriais e cartelizam preços mas também decidem quem é que tem direito ou não a estar representado nos espaços públicos de divulgação. 

Como há décadas, as companhias de teatro independente, são hoje as pequenas editoras, apesar de lhes cortarem o acesso aos grandes postos de venda, que divulgam dramaturgos e poetas, que o poder instituído recusa e renuncia. 

E esta edição da obra teatral do Manuel Marcelino é disso um exemplo que felizmente está a ser seguido por jovens editores e autores contra o monolitismo que a mundialização quer impor para que o poder assassino se eternize e transforme a humanidade numa massa disforme de autómatos sem massa crítica. 

Gostaria de ver Lisboa e todo o país com os nossos teatros reactivados, representando as obras dos nossos dramaturgos, proporcionando ao público o que ele, por interferência do Estado manipulador, começa a esquecer ou não sabe que existe. 

O Teatro e a Poesia são disciplinas superiores da literatura que devem ser bandeiras de vanguarda para que a nossa memória não sofra da metáfora do alzheimer como retrato da decadência de uma nação e de uma cultura ancestral. 

E é isso o que estamos todos aqui a fazer. 

Viva o Teatro!

 

Luís Filipe Sarmento

2.11.2016. 

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Socios fundadores e primeiros cooperantes
da cooperativa de Teatro "A BARRACA"

Visão da actriz e encenadora FERNANDA LAPA

... “O Manuel Marcelino é um “farsista” nato! A palavra não existia, mas passa a existir… 

Mas é de Rafael Bordalo Pinheiro que me lembro com mais força quando leio os “Retratos Teatrais”. Aliás o Zé Povinho é uma das personagens do Manel, o Zé Povinho e o seu tetravô, o “Ninguém” do Mestre Gil. 

Quero dizer com isto que fala de coisas sérias, incómodas e até trágicas, com uma grande gargalhada, fazendo o leitor ou o público (futuro) gargalhar com ele...”  

 

FERNANDA LAPA.

           2.11.2016.

           

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EU ACTOR 

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